Acordar de um sonho é
sempre triste. Se fosse bom acordar, não seria um sonho: antes um pesadelo.
Temos na mente uma imensidão de ilusões, repletas de desejos que a serem
realizados, fariam de nós seres mais felizes. Um sonho é isso: a realização -
ainda que imaginária - de um desejo. Tudo se conjuga na mais perfeita perfeição
quando sonhamos. Até o sonho mais improvável nos parece real. Sonhamos a
dormir; sonhamos acordados; raios...sonhamos até enquanto falamos com alguém ou
quando a nossa atenção é necessária em tudo menos naquilo que sonhamos. Sonhar
é bom e é nesses momentos que se vivem alegrias como se fossem reais. E são! É
por isso que as crianças são felizes. Porque sonham e acreditam naquilo que
sonham. E sonham com brincadeiras e jogos; campos onde jogar à bola e correr
sem destino é obrigatório, sem pressa para chegar ao final: sem nunca se
cansar. Deixamos de sonhar porque crescemos e quando crescemos ficamos secos de
sonhos felizes. Sonhamos com coisas reais e deixamos de lado o sonho porque sabemos
- alguém nos disse e nós comprámos - que são isso mesmo: apenas sonhos! E
sonhamos com amores e desamores; com dinheiro e com morte e com tristezas
porque tristes é aquilo que nós somos.
Naquele dia acordei e estiquei-me na cama. Não
estavas. Sonhei contigo e tu não estavas. Já não estavas à uns dias. Penso que
semanas ou meses. Talvez um ano. Seguramente dois. Queria que ali estivesses
porque ficou tanto para te dizer; tanto para sorrirmos juntos. Deixei de sonhar
naquele dia com outra coisa que não connosco. Mas tu já sonhavas com outro
"nosco" que não eu e eu não percebi porque apenas vivia para mim. Tu
bem mandaste sinais pelo ar. As conversas ao telefone. As SMS. As chegadas
tardias a casa porque houve reunião. E eu sonhava que era verdade porque queria
acreditar que era verdade. Mas não era. E eu em casa à espera, a sonhar que ias
entrar pela porta da rua e mesmo antes do jantar - ou ceia -, fazíamos amor na
sala. Mas tu não querias fazer amor. Querias uma queca. E eu não sabia, ou nem
me preocupei em saber porque eu julgava que sabia o que era melhor e o melhor
era fazer amor. Mas amor faz-se com ninfas e deusas gregas, lá no alto do seu
pedestal. Seres irreais que não sentem nem são gente, nem fodem como loucos
quando o calor sobe e a tesão aumenta. E eu era prisioneiro; refém de um ideal
concebido por mim e para mim, mas que nada tinha a ver contigo, que eras - e és
- mulher. Terrena, carnal e não etérea. Com desejos como todas as outras. Tu
para mim não eras outra: eras tu; eras eu e eras nós porque me sentia completo
enrolado nos teus braços, envolto nas tuas pernas, de mãos entrelaçadas nas
tuas. Tu querias mais. Querias prazer - hoje sei disso - porque todos somos o
que sentimos. Os beijos são um prelúdio; as carícias um fósforo para acender o
curto pavio do desejo; desejo que nasce, cresce e morre numa repentina explosão
minutos depois. Desejo que se quer reaceso com mais fúria e mais lascívia, mas
que aqui o parvo não acompanhava: por julgar que bastava ficar enrodilhado numa
massa de corpos deitados e perguntar "foi bom?".
E foi por sonhar que era apenas o amor que nos unia
que não percebi os teus sonhos. Tu acordaste e seguiste-os. Eu deixei-me ficar
acordado sem sonhar que também tu sonhavas. Até que partiste em busca deles e
foste sonhar para longe.
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