segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Sonhos








        Acordar de um sonho é sempre triste. Se fosse bom acordar, não seria um sonho: antes um pesadelo. Temos na mente uma imensidão de ilusões, repletas de desejos que a serem realizados, fariam de nós seres mais felizes. Um sonho é isso: a realização - ainda que imaginária - de um desejo. Tudo se conjuga na mais perfeita perfeição quando sonhamos. Até o sonho mais improvável nos parece real. Sonhamos a dormir; sonhamos acordados; raios...sonhamos até enquanto falamos com alguém ou quando a nossa atenção é necessária em tudo menos naquilo que sonhamos. Sonhar é bom e é nesses momentos que se vivem alegrias como se fossem reais. E são! É por isso que as crianças são felizes. Porque sonham e acreditam naquilo que sonham. E sonham com brincadeiras e jogos; campos onde jogar à bola e correr sem destino é obrigatório, sem pressa para chegar ao final: sem nunca se cansar. Deixamos de sonhar porque crescemos e quando crescemos ficamos secos de sonhos felizes. Sonhamos com coisas reais e deixamos de lado o sonho porque sabemos - alguém nos disse e nós comprámos - que são isso mesmo: apenas sonhos! E sonhamos com amores e desamores; com dinheiro e com morte e com tristezas porque tristes é aquilo que nós somos.

          Naquele dia acordei e estiquei-me na cama. Não estavas. Sonhei contigo e tu não estavas. Já não estavas à uns dias. Penso que semanas ou meses. Talvez um ano. Seguramente dois. Queria que ali estivesses porque ficou tanto para te dizer; tanto para sorrirmos juntos. Deixei de sonhar naquele dia com outra coisa que não connosco. Mas tu já sonhavas com outro "nosco" que não eu e eu não percebi porque apenas vivia para mim. Tu bem mandaste sinais pelo ar. As conversas ao telefone. As SMS. As chegadas tardias a casa porque houve reunião. E eu sonhava que era verdade porque queria acreditar que era verdade. Mas não era. E eu em casa à espera, a sonhar que ias entrar pela porta da rua e mesmo antes do jantar - ou ceia -, fazíamos amor na sala. Mas tu não querias fazer amor. Querias uma queca. E eu não sabia, ou nem me preocupei em saber porque eu julgava que sabia o que era melhor e o melhor era fazer amor. Mas amor faz-se com ninfas e deusas gregas, lá no alto do seu pedestal. Seres irreais que não sentem nem são gente, nem fodem como loucos quando o calor sobe e a tesão aumenta. E eu era prisioneiro; refém de um ideal concebido por mim e para mim, mas que nada tinha a ver contigo, que eras - e és - mulher. Terrena, carnal e não etérea. Com desejos como todas as outras. Tu para mim não eras outra: eras tu; eras eu e eras nós porque me sentia completo enrolado nos teus braços, envolto nas tuas pernas, de mãos entrelaçadas nas tuas. Tu querias mais. Querias prazer - hoje sei disso - porque todos somos o que sentimos. Os beijos são um prelúdio; as carícias um fósforo para acender o curto pavio do desejo; desejo que nasce, cresce e morre numa repentina explosão minutos depois. Desejo que se quer reaceso com mais fúria e mais lascívia, mas que aqui o parvo não acompanhava: por julgar que bastava ficar enrodilhado numa massa de corpos deitados e perguntar "foi bom?".

                E foi por sonhar que era apenas o amor que nos unia que não percebi os teus sonhos. Tu acordaste e seguiste-os. Eu deixei-me ficar acordado sem sonhar que também tu sonhavas. Até que partiste em busca deles e foste sonhar para longe.

Sem comentários: